O penoso 2016 não tinha chegado ao fim quando li um artigo
do jornalista Damien Cave do New York Times na internet – O simbolismo dos topes mexicanos. Os tais topes não é uma praga
apenas mexicana, quem anda por aqui também as conhece e muito bem. Não dá nem para
pensarmos em fazer galhofa com os mexicanos sobre estas absurdas construções.
Esta estupidez, também faz parte das nossas paisagens. No artigo
o jornalista diz: – A enésima vez que um
tope raspou o fundo do nosso Volkswagen, comecei a praguejar como se um
caminhão tivesse nos atingido. Não havia nenhuma sinalização para alertar a
proximidade da montanha, por isto bati nela a toda a velocidade. Seu tamanho
afetou meu veículo e pelo espelho retrovisor, pude ver as linhas profundas que
haviam deixado o chassi do meu carro e de muitos outros antes de mim. Acaso o
projetaram mal? Foi um erro? Esperemos.
Estas aberrações, hoje fazem parte da paisagem urbana de
Cataguases. Na minha adolescência isto era inimaginável. Mas o que é um tope? Então continuemos com o Damien: – Existem milhares, talvez milhões, destas
deformações nas estradas rurais e rodovias em todo o México. Os maiores parecem
esculturas de Fernando Botero antes de começar a fazê-las mais finas. Em toda a
América Latina existem estes redutores de velocidades que recebem nomes
pitorescos como "badenes" (Espanha), "lomo de burro"
(Argentina), "policías muertos" (Panamá), " rompemuelles"
(Peru) e " policías acostados" (Colômbia e Venezuela).
Entenderam? O diabo do quebra-molas não é privilégio da
incompetência de nossos políticos nem de nossa falta de educação. É apenas mais
uma demonstração do que nos nivela, e por baixo, em nosso terceiro-mundismo
latino americano. Continuamos pobres em tudo e de tudo. Voltando ao texto do Damien: – Quando eu vim para o México como correspondente
do The New York Times, eu pensei que os “topes” eram infrequentes e raros. Mas
ao longo do tempo, surgiram vários significados, como acontece com muitas
outras coisas no México.
Os topes são
maravilhas que destroem suspensões e preenchem um vazio da lei e da ordem. Num
país onde a regra é a impunidade, os topes são gritos de frustração. Eles são
um meio para impor controle de velocidade e civilidade nas ruas, e não é possível
evita-los. Não é possível suborna-los para que façam vista grossa.
Mas, voltando aqui para as nossas misérias e nosso
subdesenvolvimento. Lembrei-me de um amigo reclamando de uma viagem entre Juiz
de Fora e o aeroporto em Goianá.
–
Putaquepariu Zé! Ainda dentro de Juiz
de Fora passei por vários quebra-molas. Na estrada, resolvi contar, depois do
trinta, cansei. E ainda estava longe do Aeroporto. Quem foi o imbecil que
inventou esta porcaria?
Em Cataguases, de uns tempos para cá, alcunhados de faixa
para pedestres, proliferou uma grande quantidade destas porcarias. Feitos de
pequenos blocos de concreto eles destoam completamente dos paralelepípedos de
granito que historicamente pavimentam as ruas da cidade. Quem, como eu, nunca
foi a Paris, mas assistiu a algum filme que tem a cidade luz como cenário já
viu que ela em seu centro histórico e boa parte de seus cartões postais é toda
pavimentada com paralelepípedos, como as nossas ruas o são e sem quebra-molas
travestidos de faixa para pedestre.
No meio disto tudo me veio à mente algumas viagens pelas
poeirentas estradas da minha infância. Ao lado de uma porteira era comum estar
o mata-burro. Nome muito próximo a “lomo de burro” que, segundo Damien, os
argentinos usam para estes cretinos redutores de velocidade. Do mata-burro ao
quebra-molas, não sei não. Estou achando que nos emburrecemos, e muito.
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