– Cê acredita em mula com cabeça? Olha ela aí!
Era assim que o meu pai, se referia a todas as burradas de adolescente em
que eu me metia. Aquela fase da vida em que a gente comete os desatinos mais
despudorados com a maior das inocências. E eu as cometia às mancheias, eram
tantas que minha mãe mesmo católica fervorosa, não perdoava. – Mais uma ideia
dos infernos. Ô burraldo! E tome
chineladas no meu traseiro. Já adulto, quando me via enrascado em algum ato impensado,
lembrava do meu pai. Ele, sempre de bom-humor, chamando a atenção aos meus
erros mais grosseiros, as burradas. Aquelas que, tempos depois, te matam de
vergonha.
Tudo isto veio à tona quando me deparei com uma carcomida
balzaquiana metida em professorais óculos de aros largos, cabelos pintados, não
sei se de ruivo ou acaju. Ela entrou pela minha casa adentro, brotou num vídeo
que chegara pelas redes sociais. Num tom grave, afirmava que o país precisava
de uma intervenção militar institucional.
Firmei os olhos sem acreditar no que ouvia, – cena nojenta, a nossa bandeira com o símbolo vermelho... numa
alusão a uma suposta armação comunista para alterar a bandeira brasileira. Ainda
meio incrédulo pensei alto. – Isto é coisa de doente ou de demente. O vermelho era um círculo, o simbólico sol
nascente dos japoneses. Sem entender chongas do simbolismo em comunicação
visual, a errante assombração denuncia uma sinistra conspiração, – Preparem-se brasileiros... você que ainda
não se deu conta... a bandeira não será mais como a conhecemos...
Sinto-me estranho, perdido, no meio desta esquizofrenia
toda que assola o país. E, aquilo ali era isto. Envergonhado com tamanha
ignorância, desliguei o computador e deixei-me cair no velho sofá, lembrando do
roqueiro Raul Seixas, ...parem o mundo
que eu quero descer por que eu não aguento mais... Isto pira, enlouquece. Numa lavagem cerebral à
jato, nos servem cotidianamente não o remedinho controlado, mas descontroladamente,
doses e mais doses das contraditórias mensagens da sociedade de consumo. A
maluca parece não conseguir compreender a diferença entre forma e conteúdo de
um simples painel comemorativo. E a hora que ela encontrar com bandeira de Minas Gerais? Vai delirar como se tivesse queimado um
baseado. Tremenda mula com cabeça.
– Vai. Vai assombrar outro, vai!
– Vai. Vai assombrar outro, vai!
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