Jogador contrário ao 'sistema' abandona o futebol aos 24 anos

              Adoraria ver o Ricardo Teixeira e toda cartolagem do futebol brasileiro seguindo o exemplo deste espanhol.   Como isto não vai acontecer.   Rezo, e como rezo, rezo todos os  dias por eles.   Rezo para todos irem juntinhos para os quintos dos infernos. 


    Os hábitos de Javi Poves sempre causaram estranhamento em seus companheiros de clube. Nas concentrações, enquanto todos assistiam TV, jogavam videogame ou navegavam na internet, o jogador do Sporting de Gijón, da Espanha, costumava passar o tempo lendo livros e mais livros. Não era incomum encontrá-lo entretido com obras como O Capital, de Karl Marx.
Poves sempre foi diferente dos colegas, e sua aposentadoria não fugiu à regra: após o final da última temporada, aos 24 anos, no auge do vigor físico, ele decidiu pendurar as chuteiras. Simplesmente porque se cansou do mundo do futebol, de um estilo de vida contrário a tudo em que acredita. Em entrevista ao jornal ABC de Sevilha, o agora ex-jogador disse que quanto mais conhecia o futebol, mais se dava conta de que tudo girava em torno do dinheiro, de que se tratava de algo podre. Por isso desistiu da profissão.
Radicalismo de Javi Poves não está só no discurso Para ele, o futebol exerce um efeito narcotizante sobre a sociedade, fazendo todos se esquecerem dos problemas. Diz que deseja a justiça social e condena o consumismo dos dias atuais. Na verdade, ele vai mais além e se declara "anti-sistema", "anti-tudo": não gosta dos políticos, da direita, da esquerda, não vota.
Quando milhares de espanhóis se reuniram em dezenas de cidades para protestar, às vésperas das eleições parlamentares desse ano, Poves se juntou à multidão que manifestava seu inconformismo com o sistema político na Plaza Mayor de Gijón. No entanto, ele se distancia até do Movimento de Indignados 15 de Maio, como ficou conhecida a mobilização.
"É um movimento criado pelos meios de comunicação para canalizar o mal estar social, para que essa multidão não se torne perigosa e incontrolável para o sistema", declarou Poves ao jornal La Nueva España.
O radicalismo de Poves não está só no discurso. Uma vez, ele pediu que seu salário não fosse transferido em conta corrente porque não queria que o banco utilizasse o dinheiro para especular no mercado financeiro. Outra vez, quando cada jogador do Sporting foi presenteado por uma empresa com um carro zero, recusou. Ele já tinha um, não precisava de outro.
A história de sua saída prematura dos gramados repercutiu fortemente na Espanha, estampando as páginas dos maiores jornais do país. Não porque Poves fosse famoso: era um zagueiro central com passagens pelas categorias de base de Atlético de Madrid, Rayo Vallecano, Las Rozas e Navalcarnero. Sua estreia na primeira divisão do país só aconteceu na última rodada da temporada passada, quando jogou dez minutos contra o Hércules, partida que não valia nada para nenhuma das equipes. Antes, tinha jogado duas temporadas na segunda divisão pelo time B do Sporting de Gijón.
Agora, seu objetivo imediato é cursar a faculdade de história, na qual se matriculou recentemente. Do dinheiro que ganhava, ele jura que não sentirá falta, e diz que gastava muito pouco do polpudo salário que recebia. Para o futuro, diz que espera viajar pelo mundo e conhecer os lugares "de verdade", não mais enfurnado em concentrações.
Li no Jornal do Brasil de  12/08/2011 


3 comentários:

José Geraldo Gouvea disse...

Essa é uma daquelas notícias que nos dão engulhos ao ler. Lembra-me a história de Francisco de Assis, que largou a herança do pai burguês para viver como monge mendicante (se fosse no Brasil a semelhança seria melhor, pois professores de História andam praticamente mendigando vagas para lecionar).

Ainda estou refletindo sobre ela, pensando no que dizer. Isso positivamente é uma notícia que dá o que pensar.

Maurício Rufino disse...

Interessantíssimo o caso. Surpreendente também. Não acharia besteira comentar,a título de comparação, o que, em contrapartida, está prestes a acontecer no Brasil: parte do salário do atacante do Santos, o garoto Neymar, ser financiado pela Petrobrás e pelo Banco do Brasil. Enquanto outras carreiras desportivas batalham para sobreviver - natação, atletismo em geral, artes marciais -, correndo desesperadamente atrás de patrocinadores, os dirigentes do Clube paulista me saem com uma dessas...Só me falta esta proposta ir adiante!Infelizmente, ainda está longe de aparecer um Javi Poves em nossas terras.

Chicos Cataletras disse...

O futebol é um dos maiores bens imateriais da humanidade. Assistimos a Globo transformar a comemoração do gol que é a catarse do jogador e da torcida em uma imbecil dancinha do João bobo. A BBC fez um programa sobre a corrupção na FIFA e cita Ricardo Teixeira. A miúda (continuo chamando assim a nossa mídia) brasileira nem uma linha sobre este Conde d’Eu do futebol brasileiro – herdou o império (CBF) do sogrão. Estou muito propenso a seguir o exemplo de Javi Poves e radicalizar como torcedor: Não assistir mais jogo algum de futebol.
José Antonio Pereira