A cidade encarcerada

“Luvina
é um lugar muito triste,
eu diria que é um lugar
 onde não  se conhece o riso.
Aquilo é o purgatório.”
Juan Rulfo

Estava revirando a internet numa pesquisa. Queria encontrar alguma coisa sobre o conto Luvina de Juan Rulfo em El llano en llamas.  O conto, segundo alguns críticos, já antecedia Pedro Páramo, consagrado romance do mexicano. É o conto que mais se identifica ou tem afinidades com Pedro Páramo, posto que os homens não têm rostos, a gente não tem cara, as figuras humanas não se definem.    
Por um grosseiro erro de digitação, cai num curto artigo jornalístico de 15.01.2014. No artigo, o autor chamado Fábio Leite, homônimo do Fabinho Leite. Fabinho é um divertido amigo, que faz uma falta danada neste mundo insano e mal humorado, principalmente sua gargalhada.
O pequeno texto falava de Lavínia, cidade do interior paulista. Lá, segundo o autor do relato, metade da população está atrás das grades. O curioso é que elegeram um carcereiro prefeito da cidade.   Contrariando a pregação de alguns discípulos de Afanásio Jazadji, que bandido bom é bandido morto, em Lavínia bandido bom é bandido vivo. Eles são um ótimo negócio para a economia local.  E de quem foi o esperto “abrolhos” na cidade. Foi do Senhor Hiroshi Yamashita o prefeito que desde a última eleição, trocou as chaves da cadeia pelas chaves da cidade. O homônimo do Fabinho Leite afirma que: “Com três penitenciárias superlotadas, a cidade de Lavínia, no oeste paulista, tem mais da metade de seus habitantes na prisão. Dos 9.995 moradores contabilizados pelo IBGE, 5.288 estão presos nas unidades que têm capacidade total para 2.304 detentos.   Fico cá com os meus botões imaginando uma cidade que tem um prefeito carcereiro, qual teria sido seu mote na campanha?  Se os presos não votam, pelo menos não deveriam, mas neste país, onde o que vale mesmo é a Lei de Gerson e sendo eles os responsáveis pela pujança econômica da cidade, será que influenciam o eleitorado? Como eles são tratados pelos demais moradores de Lavínia?   O repórter Leite continua: “As penitenciárias, inauguradas a partir de 2002 a 3,5 km do centro, turbinaram a economia a ponto de ele pleitear a quarta unidade” e o Sô Mário Hiroshi Yamashita é quem garante nas palavras do repórter: "Só com a folha de pagamento dos 800 funcionários, são R$ 2,5 milhões por mês. Antes só tinha um táxi. Hoje são 35. Pousada, não tinha nenhuma. Hoje temos seis. A cidade fica mais segura porque tem mais policiais."          Depois desta, não sei qual das duas é mais surreal.  Luvina em seu ficcional realismo, ou Lavínia em sua realidade fantasticamente próxima da ficção.   

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