Hoje, enquanto lia uma notícia escondida no jornal que falava de Egydio Schwade, lembrei-me de Milton Nascimento cantando a música de Nelson Ângelo e Fernando Brant: ... Canoa, canoa desce / No meio do rio Araguaia desce / No meio da noite alta da floresta / Levando a solidão e a coragem / Dos homens que são / Ava avacanoê / Ava avacanoê ...
O povo ava-canoeiro foi duramente massacrado no final dos anos 60 em decorrência da invasão de suas terras pelo avanço das rodovias e as fazendas de criação de gado. Parte do grupo foi transferido à força pela FUNAI para o território Karajá/ Javaé, na ilha do Bananal, foram morar juntos com seus inimigos históricos, os Javaés.
Outro grupo teria fugido na época da transferência e vive em situação de isolamento.
O terceiro grupo com cinco pessoas vivem no norte de Goiás perto de Minaçu. Foi localizado em 1983 morando em uma caverna. Conseguiram escapar do massacre, Matcha, Naquatcha, Iawí e os filhos Tuia e Trumak. Na época do massacre Matcha, grávida de Tuia, Iawi e Naquatcha se esconderam nas matas onde sobreviveram por doze anos comendo morcegos e frutas silvestres.
Esta tribo simboliza muito bem, a meu ver, o exemplo da nefasta política empregada pelo estado brasileiro, de considerar os indigenas tutelados pelo estado e suas terras patrimônio da união. Deu no que deu. Não protegeram nem as terras, nem as florestas e muito menos ainda os indíos. Expulsos de suas terras, nem o direito de reclamar ao judiciario sua posse tiveram. Não são seus proprietários. Coisa que qualquer fazendeiro com um título de propriedade cretina e vergonhosamente grilado faz, e sempre com sucesso, quando um grupo de sem terra acampa em terras tidas como devolutas.
O indigenista Egydio Schwade, colaborador do Cimi no Amazonas, disse na última quinta feira - dia 30 de junho em Brasília, durante o lançamento de um relatório sobre a violência contra populações indígenas ocorridas em 2010: O Brasil ainda não conhece com exatidão as violências que foram cometidas contra os índios brasileiros no período da ditadura militar. A mídia, o governo e organizações de direitos humanos falam de torturas e violências contra opositores do regime militar, mas se esquecem que alguns povos foram inteiramente dizimados em decorrência da política integracionista dos militares.
Populações inteiras desapareceram, disse o indigenista, que nos anos 60 e 70 trabalhou com o povo waimiri-atroari. De acordo com material divulgado pelo Cimi, ele citou especificamente o caso da construção da Rodovia BR-174 (Manaus – Boa Vista). Desapareceram nove aldeias na margem esquerda do Médio Rio Alalaú; pelo menos seis aldeias no Vale do Igarapé Santo Antonio do Abonari; uma na margem direita do Baixo Rio Alalaú; três na margem direita do Médio Alalaú; as aldeias do Rio Branquinho, que não aparecem nos relatórios da Funai; e pelo menos cinco aldeias localizadas sobre a Umá, um varadouro que ligava o Baixo Rio Camanau, (proximidades do Rio Negro) ao território dos índios Wai Wai, na fronteira Guianense.
É triste constatar que aos povos das florestas nem os direitos mais básicos são garantidos. O direito à propriedade, de que tanta fala e preza nossa fidalga UDR, nem pensar.
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