Ando meio chateado com a minha rua. Pra quem não sabe, é aquela avenidinha que começa bem em frente ao grupo da vila. Tanto o grupo quanto a avenida chamam-se Guido Marlieré.
O grupo escolar, onde estudei o primário, passou recentemente por reformas. Na conclusão da tal reforma, forraram a escola de faixas agradecendo a um secretário estadual e a um deputado federal. (Êta família unida!) Segundo meu conselheiro espiritual, Pai Antônio, parecia a Santíssima Trindade; o pai, o filho e o espírito santo – assim mesmo em minúsculo para ficar do tamanho deles. Pai Antônio jura que o capixaba estava lá, veio num carro emplacado em Piúma seguido de uma comitiva de carros de Guarapari, Marataízes e alhures como bem diziam as placas dos veículos estacionados nas cercanias. Se bem que muitos daqui emplacam seus carros por lá. Dizem que é por conta de um descontão no ipva. Pouca vergonha tributária, não é não? Pessoal, no Paraguai é muito mais barato ainda! Que tal emplacar a frota da cidade em Juan Caballero?
Mas, voltando a inauguração, até que a festa foi singela: vereadores, secretários municipais, muitas fotos, só esqueceram do patrono da escola. O coitado lá fora, fu(n)dido, em bronze é claro, condenado a olhar eternamente para a escadaria sem poder mover-se. Está num abandono de dar dó, cheio de cocô de pombos, cercado de um mato ralo, mato este, que dizem ser um jardim, todo riscado de trilhas feitas por pedestres mal-educados, sacos plásticos descartados por outros transeuntes mais mal-educados ainda. Cachorros e moleques deseducadamente mijando ao pé do fundador de Cataguases.
Falo em má educação generalizadamente, para acentuar o meu desconforto com a escola que deseduca. Nos meus tempos de aluno, jamais – repito - jamais Dona Leopoldina ou Dona Zeli minhas professoras me ensinariam a cortar um pau brasil e atirá-lo nas beiradas do córrego Romualdinho. Jamais permitiriam sairmos a mijar nos muros ou em qualquer outro bem público. Como também jamais pendurariam faixas em homenagens a qualquer politiquinho, num puxa-saquismo desavergonhado. Também pudera, já tem professor na cidade sendo preso por contrabando de cigarros, de Juan Caballero, creio eu.
A avenida corre paralela ao Córrego Romualdinho – Seu Romualdo Menezes não deve estar nada satisfeito com tal homenagem, imagine usar teu nome para batizar esgoto a céu aberto fedendo córrego abaixo. Outro absurdo da minha avenida! Imaginem que tratamento de esgoto ainda é um sonho, enquanto ele não se realiza vamos vivendo este pesadelo mal cheiroso. A Guido Marlieré virou nestes tempos, em que tanto se fala em preservação ambiental, quanto se briga para salvar floresta, o logradouro onde mais se derruba árvores na cidade. Cada obra nova que surge na avenida é uma árvore que vai ao chão. Nossos incorporadores, nenhum deles, com certeza vai morar lá. Estão verticalizando a avenida e levando ao chão árvores plantadas a décadas, regadas e cuidadas por moradores como Zé Lino, Zé Cruz, Nelito Rato, Quilim Cesário. Todos, como meu pai, já ausentes para resistirem aos novos lenhadores incorporadores.
Além dos incorporadores os novos moradores também não se fazem de rogados para guardar o carrinho novo também levam abaixo árvores plantadas a décadas para a entrada do novo cômodo da casa, a garagem. Mas adoram estacionar na sombra do vizinho.
Por estas e por outras, ando triste e envergonhado com a minha primeira escola e a minha rua. Impotente, ando pelas calçadas atulhadas de entulhos, desviando de buracos, isto quando os tapumes não me empurram para a rua, evitando cocô de cachorro, levando bronca de pedreiro por esbarrar em sua moto estacionada na calçada. Que coisa mais feia meu Deus. Vai ver que como na canção de Jorge Mautner, quem está todo errado sou eu. Mas como ele eu também não peço desculpas.
O grupo escolar, onde estudei o primário, passou recentemente por reformas. Na conclusão da tal reforma, forraram a escola de faixas agradecendo a um secretário estadual e a um deputado federal. (Êta família unida!) Segundo meu conselheiro espiritual, Pai Antônio, parecia a Santíssima Trindade; o pai, o filho e o espírito santo – assim mesmo em minúsculo para ficar do tamanho deles. Pai Antônio jura que o capixaba estava lá, veio num carro emplacado em Piúma seguido de uma comitiva de carros de Guarapari, Marataízes e alhures como bem diziam as placas dos veículos estacionados nas cercanias. Se bem que muitos daqui emplacam seus carros por lá. Dizem que é por conta de um descontão no ipva. Pouca vergonha tributária, não é não? Pessoal, no Paraguai é muito mais barato ainda! Que tal emplacar a frota da cidade em Juan Caballero?
Mas, voltando a inauguração, até que a festa foi singela: vereadores, secretários municipais, muitas fotos, só esqueceram do patrono da escola. O coitado lá fora, fu(n)dido, em bronze é claro, condenado a olhar eternamente para a escadaria sem poder mover-se. Está num abandono de dar dó, cheio de cocô de pombos, cercado de um mato ralo, mato este, que dizem ser um jardim, todo riscado de trilhas feitas por pedestres mal-educados, sacos plásticos descartados por outros transeuntes mais mal-educados ainda. Cachorros e moleques deseducadamente mijando ao pé do fundador de Cataguases.
Falo em má educação generalizadamente, para acentuar o meu desconforto com a escola que deseduca. Nos meus tempos de aluno, jamais – repito - jamais Dona Leopoldina ou Dona Zeli minhas professoras me ensinariam a cortar um pau brasil e atirá-lo nas beiradas do córrego Romualdinho. Jamais permitiriam sairmos a mijar nos muros ou em qualquer outro bem público. Como também jamais pendurariam faixas em homenagens a qualquer politiquinho, num puxa-saquismo desavergonhado. Também pudera, já tem professor na cidade sendo preso por contrabando de cigarros, de Juan Caballero, creio eu.
A avenida corre paralela ao Córrego Romualdinho – Seu Romualdo Menezes não deve estar nada satisfeito com tal homenagem, imagine usar teu nome para batizar esgoto a céu aberto fedendo córrego abaixo. Outro absurdo da minha avenida! Imaginem que tratamento de esgoto ainda é um sonho, enquanto ele não se realiza vamos vivendo este pesadelo mal cheiroso. A Guido Marlieré virou nestes tempos, em que tanto se fala em preservação ambiental, quanto se briga para salvar floresta, o logradouro onde mais se derruba árvores na cidade. Cada obra nova que surge na avenida é uma árvore que vai ao chão. Nossos incorporadores, nenhum deles, com certeza vai morar lá. Estão verticalizando a avenida e levando ao chão árvores plantadas a décadas, regadas e cuidadas por moradores como Zé Lino, Zé Cruz, Nelito Rato, Quilim Cesário. Todos, como meu pai, já ausentes para resistirem aos novos lenhadores incorporadores.
Além dos incorporadores os novos moradores também não se fazem de rogados para guardar o carrinho novo também levam abaixo árvores plantadas a décadas para a entrada do novo cômodo da casa, a garagem. Mas adoram estacionar na sombra do vizinho.
Por estas e por outras, ando triste e envergonhado com a minha primeira escola e a minha rua. Impotente, ando pelas calçadas atulhadas de entulhos, desviando de buracos, isto quando os tapumes não me empurram para a rua, evitando cocô de cachorro, levando bronca de pedreiro por esbarrar em sua moto estacionada na calçada. Que coisa mais feia meu Deus. Vai ver que como na canção de Jorge Mautner, quem está todo errado sou eu. Mas como ele eu também não peço desculpas.
José Antonio Pereira
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