Faz um bom tempo, bota tempo nisto, eu andava pela feira de artesanato na praça da Republica em São Paulo, quando ouvi uma voz brotando de um carro estacionado quase na esquina da Vieira de Carvalho, cantava um coco diferente. Eu pensei: Que diabo de Jackson sem pandeiro é este. Parei, ouvi e gostei. Minha timidez não permitiu sequer perguntar ao dono do carro de quem era a voz. Aquela voz ficou retinindo no meu ouvido por algum tempo.
Nesta época vivíamos, eu e meus amigos, principalmente, Zé Tarcísio Lima – ainda rasgando taioba lá em Viçosa e o Vanderlei Pequeno – tocando viola em Cataguases, cultuando a música latino-americana, bem no meio das nossas ditaduras. Para nós, ouvir as músicas de Victor Jara, Atahualpa, Violeta Parra, a voz de Mercedes Sosa, as flautas andino-ameríndias era enxergar a liberdade democrática pelas frestas. Vivíamos atentos a toda a música de raiz que aparecia nos circuitos alternativos, fôramos criados embalados pela bossa nova e o velho e bom rock. Éramos fãs das letras de Chico Buarque e Paulo César Pinheiro. Mas o que buscávamos era a nossa identidade cultural, acreditávamos em Darci Ribeiro dizendo que éramos o maior povo romano do planeta. Eu particularmente acredito que a humanidade só será salva pela nossa América Mestiça – cadinho de todas as raças.
Um dia a namorada me chamou para ver um show numa lona de circo no meio da Praça Roosevelt, esta, era para mim, a praça mais louca que conhecera até ali. Atrás da belíssima igreja da Consolação, sobre as pistas de uma via expressa havia um supermercado e sobre o supermercado ficava a praça. No pedaço de solo firme que sobrara ficava um cineminha muito bacana o Bijou. Naquilo que era a última laje da praça ficava o circo. Entrei no cirquinho meio sem vontade estava mais a fim de um “chopis” lá no Redondo. Começou a música, fiquei boquiaberto. Era a voz lá da Republica cantando. Após ouvir “Estampas Eucalol” e “Curva do rio” fiquei fã do cantor. Na saída ainda comprei um vinil intitulado “O que qui tu tem canário” que hoje chia numa vitrola lá em Portugal roubado que me foi pelo sacana do Edgar, paneleiro de uma figa que se dizia do Porto, coisa que não acredito. O Cunha dono de um bar lá no Bixiga, fazia uma Tripa do Porto supimpa, me dizia que o gajo só podia ser lisboeta. Nada a ver com o Idigar, este é Sena, irmão de Xisto e meu mano desde os tempos de primeira comunhão lá na igrejinha do Rosário.
Fui ver o cantor novamente, lá no Cultura Artística noutro momento, com o Elomar – deste não perdia um – Geraldim Azevedo e Vital Farias , o show atrasou-se, porque Vital por medo de avião viera de Salvador de ônibus. De lá pra cá foi só desencontros, inclusive este último. O cantor apareceu lá em Piacatuba e eu não fui. Fui apeado da possibilidade ao não encontrar nem carona, nem lotação, já que era fim de mês a grana não dava para empoleirar no táxi do Joaquim e rachar para lá. Já disse uma vez que não sou um homem estainbequiano, ainda sou um ser como fui concebido pelos meus pais e abençoado por Deus, tenho ainda, como membros inferiores, duas pernas e não um automóvel. Desde São Paulo nunca mais vi um show de Xangai de quem continuo fã, ouvindo suas músicas, além de continuar xingando e rogando praga no larápio português.
Desencontros
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