Nestes dias, que avançam pelo início do terceiro milênio, e já ali se avizinha o carnaval; notícias sacodem a mesmice dos telejornais. A guerra da Vaca Louca e a revolta dos presídios paulistas, dizem que comandada por um tal PCC, que me perdoem os comunistas, seria esta a tão sonhada revolução das massas, e PCC seria o embrião do Partido Comunista dos Cárceres, mas acho que está mais para Paulicéia Coca Crack.
Aqui na provinciana e modernosa Cataguases, olha-se para tudo isto com a soberba matutice de cariocas amineirados. A torridez deste verão nos faz lerdos mentais e fisicamente preguiçosos, pondo-nos, sentados sobre nossos rabos, a teorizar e traçar soluções para as crises dos de fora deste principado chapliniano.
Portanto vamos às nossas tolices; já que repórteres e comentaristas televisivos por polpudos cachês o fazem sem constrangimento algum, e nós o fazemos por puro anarco- etílico e sacro-sacana prazer.
Nestes nossos botecos só se fala de vacas no momento, vacas loucas e loucas vacas as distintas lá pelo primeiro mundo, endoidaram de vez. Chico do Curral nosso consultor de assuntos suínos, eqüinos, bovinos e outros inos também, conhece tudo quanto é hino; de igrejas, pátrios, pútreos e zonais; de vez enquanto nos premia com uma embriagada interpretação do “Salve o colégio que é sem par de Cataguases....hic.....que do alto destas verdes colinas...hic....”. Não é que o Chico nos informa com a competência e maestria de sempre que as vaquinhas lá do lado de cima do equador viraram usinas de reciclagem de lixo, que ainda geram leite, carne e adubo. Só que as distintas começaram a cair pelas tabelas feito a panela de pressão lá de Chernobil, morrem no mais absoluto delirius vírus tremius e outros ius que os políticos já escondem e os cientistas ainda desconhecem.
Pois cá, nossos pobres sitiantes, meeiros, parceiros, toda esta esfarrapada galeria de senhores proprietários de minifúndios e também totalmente sem fundos até para comprar sementes de braquiária, um capinzinho sem vergonha, que dirá comprar rações, poções e outras misturas industrializadas que lá no primeiro mundo chucham nas refinadas e elegantes vaquinhas européias. Abre-se aqui uma curta e não muito culta discussão no boteco; chuchar ou xuxar, é verbo transitivo ou tranzativo. É obvio que surge referências a uma certa moçoila gaúcha, até porque gaúcho entende “as pampas” de vacas. Chega-se enfim a um consenso, aqui no boteco o verbo será oralizado data vênia chuxar ou xuchar, ficando a critério do orador, mas meio a meio conforme norma estabelecida democraticamente.
Na impossibilidade de fornecer tais refinamentos as vaquinhas, nossos caipiras investem mesmo é na rezação, para chover bastante, que além de ser mais água no leite é pasto verdinho, alguns quilos a mais nas bichinhas para segurar a seca do inverno só ruminando capim seco. Continuando a pauta do dia, alguém comenta: “Os cornos canadenses proibiram a entrada de carne brasileira lá.” “É mesmo?” Retruca outro. “os putos dizem que ela está contaminada tal qual a européia! ... Pode um negocio destes?”
Discussão acalorada em defesa da vaca tupiniquim: Fala-se simultaneamente de mulatas, manequins, dançarinas, prostitutas, uma longa lista de animais que fazem parte da nossa pauta de exportação; inclusive dos craques do futebol. Chico estabelece um adendo: asininos não fazem parte da pauta do dia. Todos concordam. O assunto é vaca.
Os asininos já fica desde já agendado para a próxima Copa do mundo, quando o país inteiro emburrece, sobre a batuta de narradores de futebol e aquela chusma de repórteres mais alienados que o ET de Varginha.
Os nossos noticiaristas de TV dizem que o Canadá esta em Guerra com Brasil, comercial é claro, porque em guerra de verdade nós num vamos mesmo. Imagina! É retaliação por causa de disputas por mercados de aviões, assim dizem.
Se o Canadá quer derrubar nossos aviaozinhos, porque estão incomodando uma tal de “Bombardier”, nomezinho meio bélico para uma fábrica de aviões civis, que o façam; mas nossas vaquinhas já é sacanagem. Por que bombardea-las? Já sofrem muito com surtos de aftosa, com leiteiros-gigôlos ingratos, que só querem sugar seu leitinho.
Eta paisinho safado já tem sindicalista fazendo churrascada de protesto, entreguista vira nacionalista em defesa da honra ultrajada da nossa vaca, portuário cruza os braços no porto em greve e corre para os braços de sua vaca, afinal ninguém é de ferro e cada um defende sua vaca como pode e deve. Mas meu lado indígena diz que o melhor a fazer nesta sandice toda é parar com estas abobrinhas , tomar mais uma cerveja pois o calor está de lascar. Mas para encerrar nada como um pouco da matreirice de Fernando Sabino, que não só é culto mas acima de tudo sábio, com um sobre nome desses também é até sacanagem, e tem cara de ser um puta botequeiro. Lembrando nos da metáfora do boi velho e do boi novo.
Toda esta maluquice só dura até o carnaval, vai tudo acabar em samba. Mas já lá para as bandas da Bahia, não sei não. Está com cheiro de axé bund vaca music .
Janeiro de 2001
Nenhum comentário:
Postar um comentário