
Início dos 70, quase no apagar das luzes do segundo milênio. Eu e meus até hoje amigos ginasianos estudávamos no Colégio Cataguases, freqüentávamos uma sala enorme, onde no tempo do internato fora o refeitório. Aquele espaço ficava à direita da entrada principal do prédio. Foi lá que aconteceram meus primeiros contatos com a escola. Assisti, antes de me tornar aluno, o primeiro filme de Humberto Mauro. Também foi lá que fiz a prova de admissão ao ginásio. Já aluno, em alguns intervalos, nós zanzávamos pela porta do imenso salão, perturbando a vida do João Cordovil, o homem que tocava o sino. Sino este substituído mais adiante por uma maldita sirene que nós apelidamos de Alarme de Alcatraz. Foi naquele espaço que conhecemos o mestre Ady Resende.
Pelas mãos do professor, começamos nossas aulas de desenho, primeiro à mão livre para aprendermos a segurar o lápis e firmar o traço; depois o geométrico; mais adiante as barras gregas. Um dia o mestre mandou as gregas para as calendas e mergulhamos na artesania popular. Aprendemos a confecção de peças de piaçava, palha, cestaria de taquaruçu; descobrimos no observar de suas mãos que a esperta além de forquilha para fazer atiradeira, era ótima para entalhar pequenos objetos.
Ainda pelas mãos do pintor, aprendi que o amarelo não era só a cor da fome e da nossa seleção de futebol, o vermelho não era só o da raiva e da vergonha, o azul não era só o da piscina nem o de metileno, eram (acho que ainda são) as cores primárias. Com ele descobri que olhar uma obra de arte é um mergulho para dentro de si mesmo, imersão, observação de cores e formas que o artista usa para expressar suas emoções. Se não conseguimos ver além da tela e da moldura, ou não estamos diante de uma obra de arte ou mandamos às favas a nossa sensibilidade. Retornamos ao tosco.
Naqueles tempos, em que nas aulas de português com Nilton Rossi e Márcia Carrano ainda predominava a gramática, foi olhando para Rembrant, Matisse, Van Gogh e Toulouse Lautrec na sala de aula, Candido Portinari, Paulo Werneck nas paredes, Jan Zach nos jardins e para aquela singela coleção de arte popular do colégio que me encontrei com a poesia através das imagens.
Recentemente, para minha surpresa, uma exposição individual do nosso mestre aconteceu lá no Chica. Fiquei feliz em ver pela primeira vez parte da obra do pintor Ady Resende. Eu que só tinha visto seus trabalhos em algumas coletivas e em duas visitas (separadas por quase duas décadas) a sua residência, encontrei ali suas figuras humanas sem rostos, o que as tornam angelicalmente assexuadas, quase que numa antevisão deste mundo contemporâneo em que tanto se discute a questão e a quantidade de gêneros. Vi figuras populares que se agigantam contra o preconceito dos que os querem inferiores como se fossem dalits das castas indianas. Vi figuras que flutuam a transmitir idéias em praças e ruas indiferentes.
Pelas mãos do professor e artista plástico Ady Resende, humanista de convicções firmes, continuamos a aprender e compreender arte através de suas metáforas visuais ou de sua conversa franca pelas ruas de Cataguases.
Pelas mãos do professor, começamos nossas aulas de desenho, primeiro à mão livre para aprendermos a segurar o lápis e firmar o traço; depois o geométrico; mais adiante as barras gregas. Um dia o mestre mandou as gregas para as calendas e mergulhamos na artesania popular. Aprendemos a confecção de peças de piaçava, palha, cestaria de taquaruçu; descobrimos no observar de suas mãos que a esperta além de forquilha para fazer atiradeira, era ótima para entalhar pequenos objetos.
Ainda pelas mãos do pintor, aprendi que o amarelo não era só a cor da fome e da nossa seleção de futebol, o vermelho não era só o da raiva e da vergonha, o azul não era só o da piscina nem o de metileno, eram (acho que ainda são) as cores primárias. Com ele descobri que olhar uma obra de arte é um mergulho para dentro de si mesmo, imersão, observação de cores e formas que o artista usa para expressar suas emoções. Se não conseguimos ver além da tela e da moldura, ou não estamos diante de uma obra de arte ou mandamos às favas a nossa sensibilidade. Retornamos ao tosco.
Naqueles tempos, em que nas aulas de português com Nilton Rossi e Márcia Carrano ainda predominava a gramática, foi olhando para Rembrant, Matisse, Van Gogh e Toulouse Lautrec na sala de aula, Candido Portinari, Paulo Werneck nas paredes, Jan Zach nos jardins e para aquela singela coleção de arte popular do colégio que me encontrei com a poesia através das imagens.
Recentemente, para minha surpresa, uma exposição individual do nosso mestre aconteceu lá no Chica. Fiquei feliz em ver pela primeira vez parte da obra do pintor Ady Resende. Eu que só tinha visto seus trabalhos em algumas coletivas e em duas visitas (separadas por quase duas décadas) a sua residência, encontrei ali suas figuras humanas sem rostos, o que as tornam angelicalmente assexuadas, quase que numa antevisão deste mundo contemporâneo em que tanto se discute a questão e a quantidade de gêneros. Vi figuras populares que se agigantam contra o preconceito dos que os querem inferiores como se fossem dalits das castas indianas. Vi figuras que flutuam a transmitir idéias em praças e ruas indiferentes.
Pelas mãos do professor e artista plástico Ady Resende, humanista de convicções firmes, continuamos a aprender e compreender arte através de suas metáforas visuais ou de sua conversa franca pelas ruas de Cataguases.
Ilusttração: Altamir Soares
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