Reencontrando-me com um velho amigo, não nos víamos há muito tempo. Entabulamos uma conversa sobre velhos e novos tempos.
Ele, mais velho do que eu, uns cinco a dez anos, fora na minha adolescência modelo de sucesso entre as garotas. Embora houvesse entre nós diferenças acentuadas: ele, corpo forte. Eu magrelo. Ele cara de bunda de anjo. Eu forrado de espinhas. Ele a lá James Dean. Eu coroinha de igreja. Isto explicita meu fracasso e o sucesso dele.
Zé da Pinta, como era conhecido, pôs-se a falar sobre as relações entre homens e mulheres.
Don Juan de porta de fábrica, adorava uma aventura com uma normalista, daquelas de saia azul marinho plissadas, (alguém ainda veste uma saia destas?) Quando não estava garimpando em troca de turnos das industrias têxteis, era visto na praça da matriz, perturbando a castiça juventude das meninas de boas famílias, sobre os olhares aflitos da madre superiora e suas carmelitas. Dizia que o seu sucesso entre as mulheres, derivava da dosagem exata do machismo mineiro com a cafajestice carioca , temperada com a indolência de soteropolitano.
Hoje, ele afirma convicto: São mais complexas as relações amorosas e sexuais que pontuam nossa vida moderna. Antes nunca se perguntava a uma mulher sua idade. Hoje não se pergunta pela idade, pelo gênero e pelo estado civil. Você pode ficar desconcertado com as variáveis que se apresentarão.
Já, na idade que me encontro, sou apenas um observador. Um saudoso atento. A Pinta já não faz sucesso, enrugou e amoleceu tanto quanto seu masculino. Eu e ela perdemos a virilidade, me recuso a me apetrechar de uma prótese ou, desses produtos químicos que fazem tanto sucesso por aí. Já mandaram uns quatro amigos, via parada cardíaca, para o inferno. A coisa hoje também está banal, acabaram-se as romarias à “Santa Helena”. Qualquer esquina tem alguém se oferecendo por qualquer coisa, para qualquer coisa.
Honestamente, a única coisa que ainda pratico é aquela regra que aprendi com o poeta Ascênsio Ferreira: “Hora de comer, comer. Hora de dormir, dormir. Hora de trabalhar, pernas para o ar que ninguém é de ferro”.
Julho/2004
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