Milagres de economistas



                    Se Deus é brasileiro, isto eu tenho cá com meus botões uma insanável dúvida. Mas que a terra tem um bando de milagreiros, isto, eu como todos os demais patrícios temos certeza. O último milagre que me ocorre salvo engano de minha memória, foi lá nos tempos da ditadura. Aquele que quase santificou o Delfim Neto. Estou até hoje esperando minha migalha do tal bolo que ele fazia primeiro crescer, para depois distribuir. Mais tarde, já no pós-velório da "dita dura", e como durou, os economistas do Sarney, tentaram elocubrar o seu milagre e deram com os burros n’água. Eu, como outros assalariados, tivera em janeiro daquele ano, um reajuste em nossos minguados salários. Pouco tempo depois: Festa de arromba em Brasília, câmeras fotográficas relampeando para todos os lados, coisa de fazer inveja ao foguetório, nas festas de cruzeiros do Virgínio Rios. Cheio de pompa e circunstancia, o ministro corta zero pra cá, corta zero pra lá, expurgou três. O cruzeiro morreu ali, sem direito a choro nem vela. Assim nasceu o cruzado, acompanhado de seus irmãozinhos siameses, a tablita e o congelamento de preços. Era um milagrão e tanto, daqueles que só Deus conseguira fazer em seis dias. A coisa estava perfeita, e o Delfim seria reduzido a santo de quinta categoria, daqueles que o pessoal do Vaticano acabou caçando suas santidades. 
Um amigo ainda meio tonto com tanta mudança sentiu-se meio frustrado, já que o corte de tantos zeros, tinha acabado mais uma vez com sua ilusória condição de milionário, pois toda vez que seu contracheque estampava um milhão de alguma coisa, e olha que nossa moeda já teve um rosário de nomes, pseudônimos e alcunhas, eles o rebaixavam novamente. Começamos mineiramente a desconfiar, que o trem estava errado, quando na conversão de salários nossas merrecas ficaram menor. E tome economista a explicar-nos que teríamos perda nominal e ganho real. A matemática deles era de um surrealismo capaz de murchar os bigodes do Salvador Dali de vergonha. Acho eu, que eles aprenderam aritmética na tabuada do Roberto Carlos: “... Como dois e dois são cinco...”. Não deu outra, tempos depois a coisa degringolou. (palavrinha esquisita não é, o que será que tem haver com gringo?) 
No boteco não tinha cerveja, lá vem o economista explicar-nos que a fabrica de tampinhas não conseguia atender a demanda. Alguém acreditou? Imediatamente sumiu a carne dos açougues. Um seguidor de Bakunin doidivanamente afirmava que os zebueiros tinham guardado seus bois em secretas fazendas numeradas lá na Suíça. E o economista? Botou o xerife Tuma pra correr atrás de bois nos pastos. O Bakunista indignado afirmava: Vão botar os bois no pau de arara. Vou denunciar à Comissão dos direitos humanos e à Anistia Internacional. Pasmados os fiscais do Sarney, com seus brochinhos no peito, feito baratas tonteavam entre açougues, bares e supermercados, até vendedor de churrasquinho dançou na anárquica fiscalização. De Gaule, já degolado pela velha da foice, morria de rir lá do seu túmulo. Uma certeza ficou, o plano deles ou foi plágio do Samba do crioulo doido ou então foi psicografado pelo Macunaíma. 
De lá pra cá tenho uma descrença de ateu e uma birra de velho rabugento com os tais de economistas.

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