Rua
Ouvidor Peleja, ali, fui vizinho do Altamir Soares por algum tempo. É uma rua da Vila Mariana em São Paulo, cidade que alguns amigos do Bexiga, onde, na correria, as vezes comia-se
um espaguete apressado, chamavam-na de: Milão
ao sul do equador.
Mas, a fria garoa dava mesmo, era um ar londrino às manhãs
paulistanas. A luz filtrada pelo concreto de seus edifícios, nunca era refletida
pela água empossada no asfalto. Nestas águas, o que brilhava mesmo, era aquele
arco de cores do óleo diesel derramado na pista. Logo escondido pelo tropel
apressado e bovino de trabalhadores rumo aos seus empregos.
Isto influenciou a
arte do Altamir? Não sei! Mas que acentuou alguns de seus traços
pessoais. Isto com certeza, afirmo que sim.
Altamir, parece refletir em seus desenhos, a melancolia, típica do mineiro
confinado entre suas montanhas, transmite-me a timidez titubeante de uma geração que
cresceu numa cidade operária, nossa Cataguases, com o grito contido na garganta pela censura
cristã-moralista de costumes tão conveniente à ditadura e seus acólitos. Isto faz dele, ao meu ver, uma espécie de herdeiro
artístico de Egon Schiele.
Tanto quanto Egon Schiele, Altamir tem origem em família
humilde. Ambos enveredaram pela busca de
uma anatomia, em que mesmo com a ausência do brilho em suas cores, espelhasse o
contraditório interior da alma humana.
Alguns
trabalhos de Altamir me remetem ao artista austríaco; vejo em seus nus e
figuras humanas, um pouco da expressão sem concessão com que Schiele refletia
as angustias e neuroses, transgredindo os padrões morais de sua época.
Altamir usa sua arte para expressar-se e confrontar-nos com
as nossas dúvidas existências.
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