Numa linguagem que
remete ao Salinger de O apanhador do
campo de centeio, José Antonio busca num tempo perdido (e no agora,) da
mítica infância/adolescência o assunto de suas deliciosas crônicas. E aí está, a meu ver, a sua maior qualidade:
uma técnica sui-generis aliada a uma memória cinematográfica.
Mas, é ele
um autor inédito?
Mais ou
menos: José Antonio integrou o quarteto que veio a se chamar de Os cronistas da
rua Alferes, em referência ao livro que publicou juntamente com Vanderlei
Pequeno, Emerson Teixeira Cardoso e José Vechi: Portanto é quase inédito,
exceto pelos artigos e contos publicados na e-zine Chicos, alguns constando
neste Fantasias de Meia Pataca.
José
Antonio, escreve e consegue o que ao meu ver é indispensável na boa prosa: unir
o sentimento à arte, pois o sentimento é arte também, e ambos são
expressão.
O livro
quando nos leva à representação da infância evoca nomes, lugares, firmas
comerciais, acontecimentos políticos, festas populares, como as quermesses da
igrejinha do Rosário, o carnaval, de onde resgata a gostosa marchinha, Citran
de Cataguarino: “Citran de Cataguarino chegô...ô...ô...ô... Trouxe um varal de galinha...
uma cestinha de ovos... Citran de Cataguarino chegô”.
Mas o lado
Macunaíma é revelado com a ironia existente em outras faces de seu estilo:
Milagres de economistas; O meu mil novecentos e sessenta e oito, Primeiro de
abril de 1964 e, Não é minha culpa.
Pedi a um
jovem que desse uma olhada nos originais de Fantasias de Meia P ataca e depois
perguntei o que tinha achado do livro, e ele: Na crônica, A vila, depois de
dizer o que era ela para ele na sua infância, José Antonio completou: “Notei,
que meus amigos estavam engrenados num papo sobre futebol. Acho que até o
leitor me abandonou.” Pelo contrário,
o meu interesse no livro ali apenas começou – emendou o rapaz.
Seu lado
cinematográfico nos leva a perambular pelo Bixiga dos anos 80, sua Roma
paulista. Só mesmo um cinéfilo de
carteirinha para nos guiar pelo felliniano bairro estabelecendo uma
correspondência entre este e a emblemática capital italiana com direito a Fonte
de Trevi, Anita Elkberg como em La Dolce Vita. Entre mentiras, verdades e
fantasias rolava muito papo e cerveja.
Pelas mãos
de Ady Resende, é singela homenagem que nos remete ao início dos nãos 70 quando
tivemos as primeiras impressões do colégio de Niemeyer, para chegar ao
artesanato popular o mestre nos guiava pelas barras gregas, o desenho
geométrico, o artístico, com suas sombras e perspectivas e à pintura propriamente
dita com o necessário aprendizado de suas cores básicas. E só depois de passar pelos clássicos,
Rembrant, Matisse, Van Gogh, Toulose Lautrec, Portinari que ainda estava ali na
nossa cara causando estranhamento.
Para
finalizar estas já longas considerações acerca do belo livro de crônicas do
José Antonio, destacarei o Barbastião, os dois o bar e dono, infelizmente já
extintos ressurgem nas figuras do Cossaco, Rubão e outros bebuns anônimos e
incorrigíveis, onde nas sextas-feiras como nas outras também era servido
regiamente o tradicional café dos três efes: frio, fraco e fodido. Entra Vasco era a senha para voltarem os
olhos para a calçada quando mulher bonita passava pela porta do boteco.
Quem se
arvorar a leitura deste Fantasias de Meia Pataca não se arrependerá da
empreitada. O José Antonio tem bala.
Nenhum comentário:
Postar um comentário