ANTALOGIA

                          Desde o dia em que li um conto de Ronaldo Cagiano cujo personagem era Kafka, algo aflige a minha estúpida ignorância.    Como?   Kafka esteve em Cataguases e ninguém fala nisto?  
          Acho que para o resgate histórico isto é importante.  Já resgataram o Humberto Mauro, o pessoal da verde, falta é claro o Lúcio Alves, mas o Kafka?   Se nem os locais obtêm reconhecimento fácil, imagine um judeu austríaco que ainda por cima escrevia em alemão. 
          Supõe-se que ele por aqui peregrinou a guisa de pesquisa queria conhecer a obra dos azes de Cataguases, e foi ficando, ficando...  Suspeita-se que até fundou a Papelaria Kafka, em baixo de uma padaria nacionalista de certa esquina central.   Um contador de causos, entre um pinga e uma mentira, acha que Kafka sentia-se meio ressabiado, com tanta rua com nome de doutor, coronel, major, alferes, curiosamente não tem uma com nome de cabo.   Ele acha, que o grande escritor resolveu se mandar, quando trombou com os sargentos sem fardas, agora doutores.  Sabe com é, escritor é escaldado com esta turma.    
          Espero que nossos historiadores confirmem ou desmintam estes fatos.   
          A cidade é impregnada por suposições históricas como esta.     Neste campo então é uma fartura impressionante.  Ecoa pelos ares fatos como aquele escritor que só publicou dois livros a menos do que o Leonardo Boff.       Outro, diz um inimigo: “Só relança de tempos em tempos uma nova edição de seu livro, pirateia a si mesmo, mais parece o Sergio Bitencourt e sua “Modinha”.   Ou alguém conhece outra música dele?” afirma o inimigo.
          Já um outro, escreveu já exatos trinta e dois livros, mas ninguém nunca leu.  Não publicou nenhum até este minuto.  Existe uma versão pós-moderna de Camões que ainda não completou o número ideal de páginas de sua enciclopédica obra.  Sem contar o lavrador, pré-sem terra, que entrou para os anais da história.
          Alguns professores cascateiros, que começaram a lecionar lá no Colégio Cataguases, depois da minha geração lá já estar, afirmavam sem o menor pudor que ensinaram o Chico Buarque, a rimar, jogar futebol, e pasmem compor.   Enfim, são muitos diamantes faiscando aqui neste porto a espera de um bateador de meia pataca.   
          Alguém que já se pôs a garimpar a história da cidade, garante que encontrará material suficiente para fazer uma versão provinciana do Febeapá do Stanislaw Ponte Preta. 
Vai se chamar, Antalogia  O pseudônimo do escriba, numa homenagem ao Stanislaw, será algo que termine em Taquara Preta.                   
de A Casa da Rua Alferes e outras crônicas 

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