Caminhando na noite

                             A cidade estava quente, o verão oficialmente mal começara, avizinhava-se o natal, os dias ardiam como se estivéssemos à boca de um forno de olaria.  Era o ano do centenário de Rosário Fusco, quanto a isto a frieza dos munícipes foi total. Numa destas noites abafadíssimas, eu andava pelas ruas numa inútil tentativa de fugir ao calor, sombras só na noite, o prefeito numa poda radical arrancara o verde de todas as árvores. Tentava ocupar meus poucos neurônios, dizem alguns, que não passa de meia dúzia, refletindo sobre um “diálogo” sobre a língua com um professor.   Uma áspera discussão no meio da rua me traz de volta ao calor.     Uma destes George Sand repaginados, num mau humor danado, aos sopapos com sua namorada.   Não consigo entender uma mulher trocando um homem ignorante por uma lésbica estúpida, é rodriguianamente gostar de apanhar.     Continuo o meu caminhar.  Sexo e ódio não se combinam, se opõem completamente.  Volto a pensar na língua.    Amor e humor não é só uma rima, é um no outro e suas significâncias.
Penso em beijos, paqueras...  Palavras que se relacionam, por sinal intensamente, com amor e humor.   O professor me ensinou que ósculo e beijo são sinônimos e tem origens curiosas: ósculo no latim, osculum, é diminutivo de os e oris que significa boca e orifício, esquisito né.    Já beijo, no latim basium, talvez do celta biakkion, significa boca, lábio, beiço.    Basium caiu no gosto popular acabou virando o verbo basiare, o nosso gostoso tranzativo, digo, transitivo beijar, mais tarde derivou o beijocar, a deliciosa beijoca.
O ósculo, bem o ósculo, não é má vontade não, mas este virou sinônimo de contrato de casamento, onde o oscular a noiva ou o noivo, para sermos politicamente corretos, sela o contrato matrimonial, lembra do orifício?   Pois é todos entram pelo orifício do cano quando se assenta o termo contratual.   
A paquera, onde tudo se inicia, é demonstrar interesse por alguém também me ensinou o professor, vem do tupi paka, não disse o que significa, o verbo paquerar é uma variante de paqueirar – ação do cão que caça pacas, simbolicamente é a conquista amorosa, aqui fiquei meio preocupado com aquelas musicas funks em que “delicadamente” chamam seus objetos de desejos de cachorras.   Segundo o professor: “Há quem comemore uma bem sucedida paquera num romântico jantar a luz de velas.... Depois, claro, o festejo passa da mesa pa...”
Chego no portão de minha casa e me despeço dos pensamentos.
           Um biakkion para vocês

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