Anjo do rio

Pelas águas do rio desliza o barqueiro , figura franciscana no despojamento e na atitude, percorre diuturnamente as barrancas do velho Pomba recolhendo restos que os “civilizados” insistente e levianamente descarregam nas águas do rio, a podre e pobre raça humana se revela ali em toda a sua inconseqüência, em um negativismo hegeliano, onde se vê claramente o caráter próprio da antítese, a contradição de destruir a fonte fundamental da vida; a água. Mas Gabriel, nosso barqueiro, nos contamina com seu enternecimento pelo rio, num brando amor por este ente cantado por poetas, retinado por pintores e fotógrafos; ele se toma de terno arrepio quando nos fala do Pomba. De forma solitária e silenciosa nestes últimos anos vem lutando pela preservação de seu grande e leal amigo o rio, a paixão deste pelo rio é imensa. Recolhe montanhas de plásticos, latas, colchões, moveis, madeiras de todas as formas e tamanhos ali atirados pelos “racionais animais” da civilização do descarte.
Messianicamente ele vai conduzindo sua vida numa interação apaixonante com o Pomba, um Quixote em pleno terceiro milênio, acredita piamente no rio e nos animais que vivem nas suas águas e suas barrancas, carinhosamente conversa com seus companheiros que habitam este manancial de vida. A cidade trata aos dois com a mais absoluta indiferença, mas ele não se importa , para ele o que importa é o rio, sentimos nele a temperança, a sensatez, o conhecimento justo das coisas, a indignação sem dogmas dos prudentes enfim a sabedoria que só os especiais alcançam. Gabriel é o anjo que guarda o nosso, mais dele do que nosso, Rio Pomba.

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